Mercados financeiros encerram semana com otimismo cauteloso

Wagner Constâncio
8 minuto(s) de leitura

São Paulo e Nova York — A semana que se encerrou nesta sexta-feira, 16 de maio de 2025, foi marcada por um desempenho positivo nos principais mercados financeiros globais, embalados por uma combinação de fatores: dados de inflação abaixo das expectativas nos Estados Unidos, alívio nas tensões comerciais entre EUA e China, declarações conciliadoras de autoridades monetárias e corporativas e, no Brasil, pela resiliência do consumo e avanços em importantes negociações do setor corporativo.

O apetite ao risco por parte dos investidores voltou com força, promovendo uma valorização significativa nos mercados acionários, principalmente nas bolsas americanas e no índice brasileiro Ibovespa. Ainda assim, o câmbio permaneceu sensível às incertezas fiscais internas, e os juros futuros se mantiveram em trajetória instável.


Brasil: Ibovespa Fecha Semana em Alta e se Mantém Perto de Recorde Histórico

O Ibovespa, principal índice da B3, fechou esta sexta-feira com uma leve queda de 0,11%, aos 139.187 pontos, devolvendo parte dos ganhos após ter renovado sua máxima histórica na quinta-feira. No acumulado da semana, porém, o índice avançou 1,96%, sustentado pelo bom desempenho de empresas ligadas ao agronegócio, exportadoras e do setor financeiro.

Entre os destaques da semana, o anúncio da fusão entre Marfrig e BRF, criando a gigante MBRF Global Foods Company, impulsionou as ações das duas companhias. A Marfrig subiu mais de 16% no acumulado da semana, enquanto a BRF valorizou quase 10%, refletindo as expectativas positivas em relação à sinergia operacional da nova empresa, que deve ser uma das maiores do mundo em proteína animal.

Outro vetor positivo veio dos resultados corporativos divulgados ao longo da semana. Empresas como Magazine Luiza, WEG e Raia Drogasil surpreenderam positivamente analistas, com receitas e margens melhores do que o esperado, impulsionando os papéis e contribuindo para o bom humor do mercado.

No entanto, o desempenho do índice foi limitado na sexta-feira por uma queda de 3,5% nas ações do Banco do Brasil, após analistas revisarem projeções futuras diante do aumento da inadimplência no setor público. O movimento puxou para baixo o setor bancário, tradicional pilar do Ibovespa.


Dólar Fecha em Baixa, Mas com Pressão Semanal de Alta

O dólar comercial encerrou a sexta-feira em baixa de 0,16%, cotado a R$ 5,668, acompanhando o maior apetite global por risco e uma melhora momentânea nas expectativas quanto à condução da política fiscal no Brasil.

Apesar da queda no último pregão da semana, a moeda norte-americana acumulou alta de 0,26% na semana, refletindo ainda o ambiente de cautela com o cenário doméstico, sobretudo após declarações do ministro da Fazenda, que voltou a defender a manutenção da meta fiscal zero para 2025, mas sem apresentar detalhes concretos sobre o plano de ajuste.


Juros Futuros Oscilam com Volatilidade Fiscal e Política Monetária Global

O mercado de juros futuros teve uma semana de grande oscilação. Enquanto os Treasuries (títulos do governo dos EUA) registraram quedas nas taxas, sugerindo espaço para corte de juros pelo Federal Reserve, no Brasil os DIs refletiram incertezas quanto ao rumo da política fiscal e ao comportamento da inflação de serviços.

Na curva curta, os contratos apontam manutenção da Selic em 10,50% por um período mais prolongado, em linha com a ata do último Copom. Já na curva longa, houve leve abertura dos juros, sinalizando cautela diante do cenário fiscal e do risco político com as eleições municipais se aproximando.


Estados Unidos: Bolsas Sobem com Inflação Controlada e Alívio nas Tensões Comerciais

Nos Estados Unidos, a semana foi de forte valorização nos mercados acionários. O otimismo dos investidores foi alimentado por dados de inflação ao consumidor (CPI) abaixo do esperado em abril, o que reacendeu as apostas de que o Federal Reserve poderá iniciar um ciclo de cortes de juros ainda no segundo semestre de 2025.

Além disso, o presidente Donald Trump, em visita diplomática ao Oriente Médio, anunciou uma trégua de 90 dias nas tarifas aplicadas à China, com promessa de retomada das negociações para um novo pacto comercial. O anúncio foi bem recebido por Wall Street e elevou o otimismo em relação à estabilidade das cadeias produtivas globais.

Confira os fechamentos semanais dos principais índices norte-americanos:

  • S&P 500: +5,3% na semana, fechando a 5.958,38 pontos.
  • Dow Jones Industrial Average: +3,4%, encerrando em 42.654,74 pontos.
  • Nasdaq Composite: +7,2%, alcançando 19.211,10 pontos — recorde histórico impulsionado por ações de tecnologia como Nvidia, Meta e Alphabet.

Europa e Ásia: Dados Mistos e Cautela com Crescimento

Na Europa, os mercados tiveram desempenho misto. O índice Euro Stoxx 50 avançou modestamente, com investidores reagindo à divulgação da balança comercial da zona do euro, que veio levemente abaixo das expectativas. Ainda assim, os dados foram suficientes para sustentar os ganhos nos setores industrial e automotivo.

Na Ásia, os mercados apresentaram instabilidade. As bolsas da China foram pressionadas por novos atritos no setor de semicondutores, após os EUA ampliarem restrições à exportação de chips de IA. A Alibaba também divulgou resultados abaixo do esperado, o que impactou o índice Hang Seng.

No Japão, o índice Nikkei 225 recuou após a divulgação de uma contração de 0,4% no PIB do primeiro trimestre, resultado mais fraco do que o esperado e que elevou a percepção de risco quanto à recuperação da economia japonesa.


Perspectivas: Otimismo Moderado e Atenção ao Fiscal

Com a recente trégua comercial e os sinais de inflação mais contida nos EUA, os mercados globais respiram aliviados. No entanto, a euforia é acompanhada de cautela, já que a possibilidade de cortes de juros dependerá da manutenção dessa tendência nos indicadores econômicos.

No Brasil, a bolsa se beneficia do fluxo externo e do bom momento para algumas empresas exportadoras, mas o risco fiscal segue como o principal fator de pressão sobre o câmbio e os juros. A expectativa é de que o governo divulgue nas próximas semanas detalhes do novo arcabouço fiscal, o que poderá influenciar diretamente o comportamento dos ativos.

Para a próxima semana, os investidores ficarão atentos à divulgação das atas do FOMC e do Copom, bem como aos dados de inflação e varejo no Brasil, além de novos desdobramentos nas negociações comerciais internacionais.


Com informações de InfoMoney, Exame, Money Times, AP News, The Wall Street Journal e Reuters.

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