Fim da alta dos juros anima investidores na bolsa

Wagner Constâncio
4 minuto(s) de leitura

Mesmo com uma postura mais rígida por parte do Comitê de Política Monetária (Copom), as ações de empresas voltadas ao consumo interno registraram fortes valorizações nos últimos dias. O mercado interpretou que, embora a taxa Selic deva continuar elevada por um bom tempo, o ciclo de alta foi encerrado, o que já representa um alívio para companhias mais sensíveis à política monetária — especialmente as de menor porte, conhecidas como small caps.

A ata divulgada pelo Copom no dia 24 de junho reforçou repetidamente que os juros devem se manter altos por um “período prolongado”. Mesmo assim, analistas e investidores consideram positiva a interrupção nas altas da Selic, o que tem impulsionado o apetite por ativos ligados à atividade doméstica.

Papéis como CVC, Magazine Luiza, Vamos, Azzas e Méliuz apresentaram ganhos entre 10% e 20% em questão de dias. O índice SMLL, que reúne ações de empresas com menor capitalização, acumula uma alta de cerca de 22% no ano, superando com ampla vantagem o desempenho do Ibovespa, que sobe menos de 10% no mesmo período. Algumas companhias, como Cogna, Ânima e Ser Educacional, chegaram a dobrar de valor em 2025.

Marcos Piellusch, professor da FIA Business School, avalia que a expectativa de cortes na Selic a partir de 2026 está sendo antecipada pelo mercado, o que eleva o valor presente dos fluxos de caixa futuros, impactando especialmente os setores mais alavancados. Mesmo uma redução modesta na taxa, como 0,25 ponto percentual, já altera significativamente os modelos de precificação.

Outro fator que impulsiona essa alta é o fluxo de capital estrangeiro. Até meados de junho, o mercado brasileiro já havia atraído cerca de R$ 20 bilhões de investidores internacionais. Embora parte desses recursos se concentre em empresas maiores, há um movimento claro em direção a ações de menor porte, com preços ainda considerados baratos.

Segundo Marco Noernberg, da Manchester Investimentos, os investidores estão de olho nas curvas futuras de juros, que se achataram recentemente. Isso indica uma percepção mais otimista sobre o fim do ciclo de aperto monetário, o que favorece negócios que dependem do crescimento econômico local e possuem alta alavancagem operacional.

Além do cenário doméstico, fatores externos também contribuem. A possível trégua no conflito no Oriente Médio pode aliviar a pressão sobre os preços do petróleo e ajudar na estabilização da inflação global. Isso abriria espaço para cortes de juros em economias desenvolvidas, como os Estados Unidos, e também no Brasil.

Setores como varejo, educação, turismo e leasing estão entre os maiores beneficiados. O segmento de fidelização e cashback, representado por empresas como Méliuz, também vem se destacando — a ação acumula alta próxima de 200% em 2025. Trata-se de uma recuperação após períodos prolongados de forte penalização devido aos juros altos.

*Com informações da InfoMoney, Valor Econômico, Reuters Brasil, Bloomberg Línea, B3, Banco Central do Brasil, Marcos Piellusch (FIA Business School) e Marco Noernberg (Manchester Investimentos).

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