Mercado financeiro brasileiro enfrenta semana de turbulência

Wagner Constâncio
4 minuto(s) de leitura

Aumento da taxa básica de juros, revisões nas projeções de inflação e dólar em alta compõem o cenário de incerteza que desafia investidores e empresários

O mercado financeiro brasileiro atravessou uma semana marcada por forte volatilidade, decisões de impacto na política monetária e sinais de alerta sobre o desempenho da economia nos próximos meses. Em um movimento já amplamente antecipado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa Selic para 14,75% ao ano — o maior patamar desde 2006 — numa tentativa de conter a inflação persistente que ameaça ultrapassar, mais uma vez, o teto da meta oficial.

A decisão veio acompanhada de um comunicado duro, em que a autoridade monetária alertou que novos ajustes poderão ocorrer, caso os preços não apresentem sinais consistentes de desaceleração. “A política monetária seguirá vigilante, e eventuais ajustes futuros dependerão do comportamento das expectativas de inflação e da atividade econômica”, afirmou o Banco Central.

Inflação acima da meta pressiona cenário macroeconômico

A elevação da Selic reflete a preocupação crescente com o avanço dos preços. Analistas do mercado financeiro revisaram para cima suas projeções de inflação para 2025, com estimativas que agora variam entre 5,55% e 5,68% — ambas acima do limite de 4,5% estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional. Para 2026, a expectativa é de leve alívio, com inflação projetada em torno de 4,4%, ainda acima da meta central de 3%.

Enquanto isso, o crescimento econômico segue modesto. O Produto Interno Bruto (PIB) do país deverá crescer 2% este ano, segundo as últimas previsões. Para especialistas, a combinação de juros elevados, inflação resiliente e atividade fraca representa um “tripé de risco” que deve ser observado com atenção pelos formuladores de políticas e pelo setor produtivo.

Dólar avança e alcança R$ 5,71

Outro reflexo da instabilidade foi observado no câmbio. O dólar comercial fechou a semana cotado a R$ 5,71, pressionado pela elevação dos juros e pela aversão ao risco no mercado internacional. Há estimativas de que a moeda norte-americana possa chegar a R$ 5,90 até o fim do ano, caso o cenário global continue adverso e as incertezas internas persistam.

Disputa entre bancos e novos leilões de infraestrutura movimentam o setor privado

No setor corporativo, destaque para a movimentação estratégica no setor bancário. Grandes instituições disputam ativos do Banco Master, o que pode redesenhar parte do sistema financeiro nacional. Ao mesmo tempo, investidores privados seguem demonstrando apetite por concessões públicas. O leilão da BR-040, vencido pelo consórcio Nova Estrada Real, garantiu mais de R$ 2 bilhões em investimentos para a infraestrutura de transporte rodoviário, sinalizando confiança no setor mesmo em meio à instabilidade econômica.

Perspectivas: cautela e estratégia

Diante de um quadro que combina incertezas macroeconômicas com oportunidades setoriais, analistas recomendam cautela e análise criteriosa na alocação de ativos. “É hora de prudência. O cenário ainda é instável, e qualquer erro de avaliação pode custar caro”, alerta Maria Valente, economista-chefe de uma gestora paulista.

Enquanto o país busca equilíbrio fiscal e estabilidade nos preços, os próximos meses serão decisivos para definir o rumo da economia brasileira em 2025. O comportamento do Banco Central, os indicadores inflacionários e a evolução da economia global continuarão no radar de investidores, empresários e do governo.

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