O mês de maio de 2025 foi marcado por um dos piores desempenhos do Ibovespa desde o início da década. O principal índice da Bolsa brasileira recuou 3,04% no período, refletindo um conjunto de fatores que vêm desafiando o otimismo dos investidores: juros domésticos persistentemente altos, desconfianças sobre a âncora fiscal do governo, e um ambiente internacional volátil e imprevisível.
À medida que junho começa, analistas e gestores olham com atenção redobrada para os próximos passos da política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, enquanto tentam encontrar pontos de apoio em setores resilientes da economia. A perspectiva, no entanto, é de mais um mês de volatilidade e seletividade.
Maio: mês de correção, cautela e rotação
A performance negativa do Ibovespa em maio não foi um movimento isolado. O cenário global, em especial a pressão inflacionária persistente nos EUA e a fraqueza da economia chinesa, pesou sobre os mercados emergentes, inclusive o Brasil. Porém, fatores internos ajudaram a ampliar o pessimismo.
O primeiro deles é a curva de juros: a expectativa de que o Banco Central mantenha a Selic elevada por mais tempo — podendo até elevar a taxa caso a inflação persista — contribuiu para a fuga de capital da renda variável para a renda fixa, além de impactar diretamente os valuations das empresas.
“Estamos em um ambiente de juro real elevado, o que limita o crescimento da Bolsa. O investidor exige retornos maiores para tomar risco, e isso pressiona principalmente setores de crescimento e empresas com maior alavancagem”, explica Ana Melo, economista-chefe da Vitral Asset.
Outro ponto de atenção é o quadro fiscal. Embora o governo tenha aprovado o novo arcabouço fiscal em 2023, dúvidas sobre a sua execução — somadas a pressões políticas por mais gastos — levantam questionamentos sobre a capacidade do Brasil de cumprir metas de resultado primário em 2025.
“A credibilidade fiscal ainda está sendo construída. Qualquer ruído nesse campo afasta o investidor estrangeiro e pressiona o câmbio e os juros”, aponta Caio Ferreira, estrategista da Ágora Investimentos.
Setores e ações: onde o mercado se protegeu
Apesar do tom negativo do mês, houve pontos fora da curva. As ações de frigoríficos lideraram os ganhos do Ibovespa em maio. A JBS (JBSS3) subiu impressionantes 23,04%, puxada por um resultado trimestral acima das expectativas e melhora nos preços da carne bovina no mercado externo. A Marfrig (MRFG3) veio logo atrás, com alta de 19,37%.
Outro destaque foi o setor de energia elétrica, que voltou a atrair interesse por seu perfil defensivo e por oferecer dividendos atrativos. “Com a Selic alta e o risco elevado, o investidor tende a buscar empresas perenes, com fluxo de caixa previsível e pouco impacto da atividade econômica”, comenta Luciana Cavalcante, da Planner Corretora.
Em contrapartida, bancos e varejo tiveram desempenhos fracos, penalizados pelo custo elevado de crédito e pela desaceleração do consumo. O Magazine Luiza (MGLU3), por exemplo, teve queda de 11,5% no mês, refletindo a dificuldade de repasse de preços e o aumento da inadimplência.
Junho começa sob tensão, mas com espaço para alívio
As atenções se voltam agora para os primeiros sinais de junho. O início do mês já traz uma agenda intensa: divulgação do PIB do primeiro trimestre, novos dados de inflação (IPCA-15 e IPCA cheio), e principalmente a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no fim do mês.
“Há expectativa crescente de que o Copom possa sinalizar uma inflexão na política monetária, ainda que os cortes não venham imediatamente. Isso já ajudaria o mercado a encontrar um piso e reduzir a pressão sobre os ativos de risco”, projeta Gustavo Salomão, gestor da Navi.
Além disso, o comportamento do dólar será essencial. A moeda americana encerrou maio cotada a R$ 5,37, acumulando valorização de 6,1% no ano. Um câmbio mais comportado em junho pode aliviar pressões inflacionárias e abrir espaço para uma reprecificação dos ativos locais.
O que esperar dos setores em junho?
🏦 Bancos:
Devem continuar pressionados pelo custo elevado do crédito e baixo apetite por risco. No entanto, os grandes bancos (Itaú, Bradesco, Banco do Brasil) tendem a mostrar resiliência.
🛍️ Varejo:
Segue em terreno perigoso, com impacto direto do juro real elevado. Varejistas com exposição ao público de maior renda, como Arezzo e Vivara, têm desempenho mais defensivo.
⚡ Elétricas:
Podem continuar como porto seguro em junho. A combinação de fluxo de caixa previsível, distribuição de dividendos e baixa sensibilidade ao ciclo econômico atrai investidores conservadores.
🛢️ Commodities:
Petrobras e Vale seguem sob escrutínio. A primeira depende da política de preços e governança, enquanto a segunda sente os efeitos da demanda chinesa. No entanto, ambas continuam entre os principais pilares do Ibovespa.
Conclusão: seletividade, paciência e olho no Copom
O mercado brasileiro entra em junho sob o signo da cautela. Com o Ibovespa acumulando queda de quase 7% no ano e os juros reais acima de 6%, a renda variável disputa atenção com alternativas de menor risco. No entanto, especialistas alertam para a importância da seletividade.
“Em momentos como esse, o investidor que escolhe empresas com fundamentos sólidos, bom histórico de governança e potencial de valorização em ciclos futuros pode sair fortalecido”, afirma Salomão.
Com os olhos voltados para o Copom, para os sinais da política fiscal e para o comportamento da inflação, junho será um mês-chave para o rumo da Bolsa em 2025. O caminho ainda é incerto — mas, para quem souber onde pisar, as oportunidades continuam existindo.