Casamento vem do verbo latim “casare”, que significa “o lugar onde se constrói uma casa”. É uma ideia de delimitar um espaço para ilumina-lo. É como se fosse colocar um farol dentro de um oceano. É um espaço de diálogo e convivência profunda entre seres humanos. É pegar, por exemplo, a capacidade de amar a humanidade inteira e concentrar-se a numa única pessoa. É como apreciar um bom vinho requintado. É o amor legítimo que se dirige em todas as direções, fazendo transformar humanos em seres melhores e evoluídos.
O casamento busca um ser humano para caminhar com o outro. Ninguém pode ser tudo por nós como algumas músicas apregoam. Nós que devemos ser tudo por nós mesmos. Caso contrário, gerará uma forte desilusão. Afinal, somos seres humanos e quem vive de amor é o CEO do cabaré.
Embora as civilizações ocidentais seculares considerarem casamento um contrato (o famoso casamento civil), na prática ele possui uma relação que ultrapassa a materialidade, pois, faz com que os seres humanos se unam em torno de algo mais sublime e sagrado.
É o caso da legislação brasileira. Para ela, o casamento consiste num contrato, numa comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges (art. 1.511 do Código Civil), devendo manifestar perante o juiz a vontade de estabelecer vínculo conjugal, podendo, por conseguinte, ser dissolvido por meio do divórcio (art. 226 § 8º da Constituição Federal).
No tocante ao tema Khalil Gibran expressou sobre o tema por meio de uma narrativa fictícia, conforme abaixo:
Então, Almitra tornou a falar e perguntou:
“E que nos dizes do Casamento, mestre?”
Em resposta, ele disse:
“Vós nascestes juntos, e juntos permanecereis para sempre.
Estareis juntos quando as brancas asas da morte dissiparem vossos dias.
Sim, estareis juntos ainda no silêncio da memória divina.
Mas que haja espaços em vossa união,
E que os ventos do céu passeiem entre vós.
Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão:
Que as ondas do mar passeiem entre as praias de vossas almas.
Enchei o cálice um do outro, mas não bebei do mesmo cálice.
Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vós estar sozinho,
Como as cordas do alaúde que, separadas, vibram em harmonia.
Dai vossos corações, mas não os confiai um ao outro,
Pois somente a providência divina pode contê-los.
E permanecei juntos, mas não em demasia:
Pois os pilares do templo erguem-se separados,
E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro.”Capítulo 03 – Casamento – Obra: O Profeta – Khalil Gibran.
É possível interpretar por meio da narrativa acima que os humanos podem se unir ao outro somente pela afinidade física ou por afinidade psíquica ou por afinidade noética. A primeira, é uma união mais comum atualmente, embora ser comparada a unir-se em prol de comer uma barra de chocolate ou a tomar um simples sorvete, tendo em vista que ao experimentar repetidamente no paladar, chegarão a enjoa-se. Quando o amor é simplesmente físico, o outro torna-se descartável. Já a união por afinidade psíquica é mais duradoura, porém, diferentes em até nós mesmos. Possui direções diferentes.
A união por afinidade noética diz respeito de apesar das dificuldades e dos problemas oriundos do cotidiano, o amor e a esperança na relação devem prevalecer. É a possibilidade de fazer algo grandioso por alguém ou pela humanidade mesmo em situações de dificuldades ou periculosidades. Quando alguém diz “o que Deus uniu, jamais o homem separará”, em verdade, argui sobre a constatação da unidade. Platão já dizia que se o amor não for sincero, não é amor. Se não existe uma relação vertical, mas, apenas horizontal – isto é, aquela imbuída de interesses materiais, não é possível manter o casamento. Cada dia tal situação é cada vez mais comum.
REFERÊNCIAS
GIBRAN, Khalil. O Profeta. Trad. por Ricardo R. Silveira. Edição Especial. Rio de Janeiro: Editora Saraiva, 2011.